Guadalcanal, ilha da morte. Lugar onde a maré da Guerra no
Pacífico começou a virar definitivamente contra o Japão. Palco de feroz batalha
pela posse de um aeródromo miserável, cercado por selva tropical infestada de
malária. Pois eu estive lá, mergulhando e explorando navios e aviões mortos no
leito marinho da Baía do Fundo de Ferro, visitando o campo de batalha, museus
militares e memoriais. É com esta história, real e emocionante, que inicio este
livro. Mas teve mais. Pouco tempo depois
ganhei a feliz oportunidade de estar a bordo do Tapajó, submarino da Marinha do
Brasil e participar de um exercício de navegação e mergulho no Atlântico. Fui
batizado por Netuno como Dourado e vivenciei as entranhas daquela máquina
complexa, dominada por uma tripulação hábil e dedicada, em um ambiente informal,
mas pleno de camaradagem e eficiência; qualidades típicas de um caçador das
profundezas. No ano seguinte fui a Malta. Seria verdade que durante a Segunda
Guerra Mundial, quem possuísse aquela ilha amarelada e rochosa, teria nas mãos
o domínio do Mediterrâneo Central? Malta
pertinaz, foi duramente bombardeada e estava repleta de histórias. Mergulhei
nos seus naufrágios, conheci fortalezas, museus e memoriais, trazendo tudo isto
para as páginas deste livro. Pousei então em Palau, minúsculo pontinho no mapa
da imensidão do Pacífico. Importante base japonesa logística-operacional, atacada
tenazmente pela Marinha Americana em 1944. Bombas, minas e torpedos enviaram
muitas embarcações para o fundo da laguna e eu tive a possibilidade de esmiuçar
as principais. Depois teve um intervalo de superfície ao desembarcar em
Peleliu, ilha invadida por fuzileiros e soldados americanos que tiveram que
enfrentar uma selvagem resistência dos japoneses. Visitei cavernas, tanques,
canhões, bunkers e aviões apodrecendo
na selva inóspita e úmida. Cansado, caro leitor? Pois eu não. Fui conhecer o
encouraçado USS Texas, poderoso navio de duas Guerras Mundiais, remanescente de
uma época romântica onde a espessa blindagem e obuses de grosso calibre
determinavam a vontade política de uma nação. Naquele mesmo ano retornei aos
Estados Unidos e conheci na pequena cidade de Fredericksburg, terra natal do
almirante Nimitz, o primoroso Museu Nacional da Guerra no Pacífico com seu
valioso acervo e esmerada expografia. Em seguida foi uma visita a Fortaleza de
Oscarsborg, na Noruega e sentir de muito perto o clima da Batalha do Estreito
de Drobak e o afundamento do cruzador pesado Blücher. Os canhões e os tubos
lança-torpedos que afundaram o navio alemão estavam por lá. Ainda em Oslo, tive
o ensejo de ver uma embarcação viking
com quase 1.200 anos e o navio polar Fram utilizado por Nansen e Amundsen. E lá,
bem perto, em Estocolmo, fui conferir o Vasa, galeão que ficou submerso 333
anos no Báltico e que agora é monumento nacional. Satisfeito, prezado leitor?
Eu ainda não! Já era hora de voltar para a água. Foi assim que aterrissei em
Rabaul, também antiga e poderosa base japonesa, com seu excelente porto natural
e seus vulcões. Lá foram mergulhos emocionantes em caças Zero, em um biplano
Pete e diversos navios afundados na Baía de Simpson. Depois foi Bougainville onde
participei de extenuante marcha na selva até o ponto em que caiu o bombardeiro
Betty que transportava o almirante Yamamoto, abatido por caças americanos
durante a execução da Operação Vingança. Impressionante. Todavia tudo isto
ainda era muito pouco. Assim, fui a Croácia e mergulhei no naufrágio de um
Junkers 87 Stuka que se encontrava muito bem preservado. No mês seguinte estive
na Normandia, França, e identifiquei o naufrágio de um velho tanque Sherman DD
afundado no dia do Desembarque Aliado, não pelo fogo alemão, mas pelas ondas do
Mancha. Depois foi Creta, onde pude também mergulhar e explorar um
Messerschmitt 109 emborcado no fundo do Mediterrâneo e ainda, conhecer o campo
de batalha de Maleme onde pousaram em 1941 os Fallschirmjäeger, também o
Cemitério e o Memorial Alemão, bem como o Museu de Guerra de Askifou. Tudo isto
é verdadeiro, vibrante e está agora diante dos seus olhos, caro leitor. Tenha
um excelente proveito.
Nestor Antunes de Magalhães é 2º tenente reformado do
Exército Brasileiro, tendo servido os nove últimos anos de sua vida
profissional no Museu do Comando Militar do Sul. É membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil, mergulhador CMAS** com quatro
especializações, Submarinista Honorário da Marinha do Brasil, Medalha Mérito
Tamandaré e autor dos livros U Boats – Mergulhando na História e De Truk a
Narvik – Mergulhando na História. Mergulhou em inúmeros naufrágios por toda a
costa brasileira, destacando entre outros, a participação em uma expedição
exploratória nos naufrágios do Parcel do Manuel Luís, Maranhão. Também
mergulhou em naufrágios na costa leste dos Estados Unidos, Mar Negro, Golfo de
Biscaia, Truk Lagoon, Havaí, Golfo de Suez, Golfo de Aqaba, Scapa Flow, ilha Haakoy,
Malta, Palau, Rabaul, Narvik, Croácia, Normandia e Creta.