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   Histórias dos mares do Sul - 1982 9º edição
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Preço
R$ 15,00
Histórias dos mares do Sul - 1982 9º edição

Poucos escritores, mesmo os mais brilhantes, tiveram a sorte de serem consagrados em vida. Nem mesmo gênios como Kafka, que só foi realmente compreendido após sua morte, ou mesmo Nietzsche, que bancou vários de seus livros, não alcançaram realização profissional quando vivos.Maugham foi um dos mais bem pagos de sua época, justa e amplamente paparicado tanto pela crítica, quanto pelo público, apesar de jamais ter se considerado um grande escritor. Modesto, costumava dizer que se encontrava na primeira fila dos autores de segunda classe. Seja como for, ele provou ao longo de toda a sua vibrante obra a que categoria pertencia, e certamente não era a mesma na qual ele dizia se enquadrar.Do primeiro escalão dos grandes romancistas do início do século XX, ele soube aproveitar cada uma de suas experiências de vida, especialmente as mais dolorosas, para criar personagens bem delineados e capazes de despertar as mais distintas, saudáveis e intensas emoções até mesmo de uma pedra — ou dos que se mostram como tal. É o que acontece em sua masterpiece "Servidão Humana", a mais inigualável das narrativas, tão pungente quanto "A Metamorfose" kafkiana e com personagens profundamente enérgicos e que provocam empatia quase instantânea (jamais momentânea, mas sim duradoura), como seu alter-ego Philip.Nesta excelente compilação de novelas, outro dos gêneros nos quais ele era craque (a versatilidade de Maugham se mostrava também em peças teatrais, romances, contos, crônicas e matérias jornalísticas), temos outro de seus trabalhos mais bem resolvidos. Não é um dos meus livros favoritos dele, mas que ainda assim proporciona uma agradável e vibrante leitura e, por que não, uma introdução ao gênero novelesco, tão desprezado na nossa era.Esquisito que seja assim, pois a novela tem características que lhe conferem bastante valor literário e também mercadológico, pois permite que o escritor se estenda mais do que em um conto (assim ele fica livre para acrescentar-lhe mais detalhes), e também não se alonga tanto quanto um romance, permitindo uma leitura rápida e mais condizente com o tempo que a maioria das pessoas reserva para a leitura.Seja como for, neste livro Maugham, como sempre, mostra destreza e completo domínio de seus resplandecentes personagens, que dão o ar de sua graça com a mesma desenvoltura que lhes é natural. Mas não espere encontrar aqui a mesma paixão presente na maioria da sua obra, pois como eu já falei, não se trata de um de seus melhores rebentos, pois essas posições já foram preenchidas por "29 Histórias" e "Casuarina", dois de seus melhores volumes de contos.Claro, há que se destacar a beleza e poesia de "Mackintosh", pequena e brilhante fábula que literalmente nos introduz nesse laborioso mergulho nos mares sulistas. Ou mesmo da minha favorita deste livro, a belíssima narrativa de "Chuva". Neste em especial, Maugham utilizou a chuva do título como parábola para representar o sentimento divino que perdura durante todo o conto, quase como uma oração que se completa com a bendita água dos céus. Mas, como tudo o que vem em excesso se torna o oposto do que até então tem sido, as monções simbolizam sua ira, e é por isso que chove tanto durante a conflituosa estada dos religiosos protagonistas na ilha. E forma-se um ciclo vicioso onde quanto mais chove, mais tempo são obrigados a permanecer, e vice-versa.Uma das personagens mais "maughanianas" (intensas, dominantes) desse livro, além do já destacado Mackintosh, é certamente Ethel. A índia do conto "O Poço", que levou o marido Lawson à ruína total, guarda muitas semelhanças com Mildred, a gigantesca pedra no sapato do meigo Philip de "Servidão Humana". Ambas levaram seus amados à ruína espiritual e física, e ambas o fizeram sem um motivo nobre ou coisa que o valha, mas pura e simplesmente por crueldade. Se bem que Mildred não foi tão bem sucedida em seu plano de degradação não porque seu poder de sedução não tenha perdurado tempo suficiente, nem porque ela fosse menos dominadora que Ethel, mas porque seu alvo, Philip, apesar de seu amor imensurável, nada tinha de idiota. Convenhamos, enquanto Ethel era sagaz e carismática, Lawson era psicologicamente fraco e irascível, chegando certa vez a bater em sua amada (talvez até merecidamente, já que ela o havia atacado primeiro) e, em seguida, a se arrepender irremediavelmente, rastejando e implorando por um perdão que não recebeu, pois a partir de então, ela passou a considerá-lo um covarde, portanto, não lhe devia respeito algum. Em contrapartida, por mais devoção que Philip tivesse por Mildred, ele jamais se deixou descer tão baixo a ponto de perder sua individualidade.